segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Sob Olhos Marejados




E lá estava Anton suado após a dança, sua respiração ofegante era abafada pela música alta enquanto ele permanecia com o corpo paralisado no final da coreografia. Seu rosto mascarado disfarçava o suor e os seus lábios trêmulos ao observar o resto do salão com seus olhos castanhos. Não houve aplausos, não houve reações, não houve sorrisos, apenas olhares arqueados. O primeiro assalto foi este.
Frustrado pelo acontecimento anterior, o garoto tentou se distrair em meio a uma dança qualquer no salão, exceto que ao olhar para o lado ele viu uma cena que gostaria de não ter visto. Uma troca de beijos, uma simples troca de beijos, que automaticamente fizeram Anton sentir uma chuva de agulhas e alfinetes em seu coração. Este foi o segundo assalto.
Mais uma vez ele tentou estufar o peito e sorrir, dessa vez em meio a todos os outros que mal o conheciam. Justamente por não o conhecerem, ele foi excluído daquela comemoração, algo que com muito esforço ele fingiu não se importar, embora internamente tenha gritado em plenos pulmões enquanto seus punhos enluvados cerravam dentro dos bolsos da calça. Assalto número 3.
Dando-se por vencido ele optou pela saída dos covardes, utilizando o milagre químico ao inalar o diamante em pó, instantaneamente lhe dando toda a tranquilidade que precisava, e logo ele era o Anton O’Connor que fechava os olhos e se fechava em seu próprio mundo. Um mundo onde não havia sentimentos ou pessoas, sendo um mundo solitário e perfeito, pois ali nada poderia machucá-lo.
Infelizmente a cada vez que abria os olhos, tudo voltava a assombrá-lo. Foi quando percebeu que deixava transparecer mais do que gostaria. Em determinado momento Jade Dawson o puxou até o canto e disse claramente que sabia que havia algo errado, pois nos olhos de Anton havia apenas dor em meio aos globos avermelhados, mesmo através de sua longa máscara. “Nada que não possa superar”, disse Anton em resposta, voltando a dançar em seguida.
Gary Winchester também percebeu algo errado, seus olhos brilhantes o analisavam e não demorou a entender o quanto Anton estava perdido. Diferente de Jade, ele preferiu se manifestar depois da grande festa, tendo uma demorada conversa com o garoto a caminho de casa.
Passado o efeito, o cansaço chegando e o final daquela noite, Anton percebeu que nada realmente mudou. Ele continuava no mesmo lugar e com os mesmos problemas, os sentimentos incertos, os dramas frequentes iriam assombrá-lo. Sentado em um banco qualquer de um parque, ele fechou os olhos e tentou não dormir, ainda havia pontas soltas para amarrar.
A única certeza de tudo isso foi a de que não importa quão bom você seja isso nunca irá parar os problemas de chegarem até você. Ao abrir os olhos mais uma vez, Anton arriscou uma tentativa de sorriso, iria precisar treinar mais alguns até saber como desligar totalmente seus sentimentos do resto do mundo.
Uma parte já estava completa, pouco a pouco ele sentia menos dor. Mas a outra parte ainda queria acreditar no mundo, essa era a parte que dizia que está tudo bem chorar de vez em quando. Era o que o fazia lembrar que ainda possuía sentimentos.

“'Cuz my friend said he'd take you home
He sits in a corner all alone
He lives under a waterfall
Nobody can see him
Nobody can ever hear him call”
Oasis - Supersonic

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Let Go





Durante quase um mês passei por uma fase de transição que ainda ocorre o tempo inteiro. É extremamente difícil aceitar certas coisas, e mais difícil ainda manter um sorriso no rosto, um que diga “Não ligue, está tudo bem”. Não são todas as pessoas que passam a vida inteira com um objetivo em foco para segui-lo até o final dos tempos, como já falei e parafraseei diversas vezes vivemos em mudanças constantes, quem você é hoje não poderá ser você amanhã.
Perdi algumas pessoas em pouco tempo, algumas baixas que não me acrescentavam nada, outras que poderiam ter significado tudo, e ainda alguns casos que permanecem junto a mim, porém sinto como se fossem inalcançáveis. Claro que também existem aquelas que são onipresentes e notam quando algo de errado está acontecendo independente da distância, algo que admiro.
Sempre achei que sou a transparência em pessoa, sabe? Quando escuto uma música e canto um trecho da mesma, significa que aquela frase define o momento, sempre que paro de falar e fixo o olhar em um ponto morto, significa que naquele instante queria que fosse tudo diferente e me pego imaginando o que poderia mudar ali, quando puxo o capuz sobre a cabeça quer dizer que quero um tempinho recluso no meu mundo, onde me sinto seguro. Claro que nenhum desses sinais é tão importante para meus amigos onipresentes, uma delas me surpreendeu ao me puxar no canto para conversar e dizer que notou a melancolia apenas pelo meu olhar, assim como outro colocou a mão sobre meu ombro e disse que meu sorriso não era como ele costumava lembrar.
É bem verdade que andei passando por caminhos obscuros ultimamente, onde tive de aprender que ainda não aprendi tudo, que boa parte do que sei não se aplica em tempo integral. Ainda sou aquele garoto que se sente deslocado do mundo pela maneira sonhadora de pensar, o cara que diz que está tudo bem, mas é incapaz de esconder a decepção quando a sente, o Alexis Tyrell que faz muito pelos outros e acaba sofrendo quando não dá certo, e até mesmo o egoísta que a cada relance no reflexo do espelho, sente algo de diferente naquela imagem. Mas aprendi que é possível segurar a vontade de gritar alto, que pouco a pouco fica mais fácil recolher os destroços que se partem dentro de si; é possível sim, manter relações se souber usar bem as palavras; orgulho nunca vai ser maior que a vontade de se fazer o certo; a vida sempre lhe dá lições novas. A mais importante delas para mim no momento é a mais simples delas: você tem de saber quando deixar algo ir, a vida não vai esperar você se recuperar antes de lhe dar outro choque.
Uma coisa que notei é que sempre tive um puto complexo de vítima. A culpa nunca era minha, todos sempre me deixavam na pior, todos sempre foram obrigados a me ouvir reclamar, que sou muito solitário, a vida sempre foi injusta comigo, o carma me pegou para Judas, e blá blá blá. Parei com isso, já entendi que tudo o que acontece tem um propósito maior, e até prefiro acreditar que tudo isso é para me fortalecer, por mais doloroso que seja. Nada é tão difícil que eu não possa superar sozinho ou com a ajuda dos amigos. Só me resta respirar fundo, me levantar e continuar a caminhar pelas ruas escuras que escolhi.
Então, mesmo olhando à distância uma pessoa que queria por perto com lágrimas nos olhos, sempre posso enxugá-las e sorrir, dizendo mais uma vez “Hey, está tudo bem.”

“I feel numb most of the time
The lower I get the higher I'll climb
And I will wonder why
I got dark only to shine”

Marina and the Diamonds - Numb