sábado, 27 de setembro de 2014

Oceanborn




Quando era mais novo, por volta dos meus 13 ou 14 anos, li o primeiro volume do mangá da Avril Lavigne ( para quem não sabe, sim, existiu ) e descobri ser deveras interessante. Primeiro que a história era bem mórbida para a época e a melancolia nos fazia refletir bastante. O primeiro volume continha uma passagem que reflete bastante o meu dia a dia.
A protagonista usava redes sociais e se correspondia com várias pessoas que faziam parte de seu dia a dia, para cada pessoa ela utilizava uma aliase diferente, de modo que nenhuma das pessoas a conhecia de verdade. Dessa forma acabou descobrindo muitos segredos sem se expôr, e nisso soltou uma citação parecida linda que não me recordo no momento, era uma analogia com pessoas e oceanos.
Já parafraseei aqui que pessoas são como oceanos, você pode se misturar com elas e fazer parte de seus cardumes, ou pode ser um peixe solitário, nadando nesse oceano sem realmente se comprometer. Creio que faço parte de um grupo seleto com um dom parecido com o da protagonista. Claro que não sou um fã que se refugia em uma cantora e possui complexos de identidade, mas sei como nadar nesses oceanos.
Me peguei pensando o quanto sei muito sobre as pessoas da minha vida, mas poucas realmente sabem algo sobre mim. Sei de muitos segredos obscuros que mantenho guardados comigo, sei de vários fetiches, sei de fatos que não contariam abertamente em uma roda, sei de pessoas que nunca chorariam, mas que acabei recolhendo suas lágrimas, no final, acho que sei demais.
É um tipo de poder que deve ser usado com sabedoria, com a semiótica aí para cada um decidir o que deve fazer com isso. No final, acabo pensando apenas no modo como isso acaba me afastando um pouco mais do mundo e destacando o meu jeito diferenciado, niilista de ser. Acaba sendo no mínimo desconfortável passear pelas ruas e ver tantos rostos conhecidos, sabendo que conhece cada um tão bem quanto os próprios, e no final, muitos deles não lembram nem mesmo do seu nome ou de seu rosto. Você foi apenas um momento, alguém útil em um momento necessário, alguém que se importou demais.
O anonimato dessas ações me concede ângulos únicos, alguns que acabo vir a apreciar. O problema é a dificuldade em balancear tais ângulos com o que sinto ao caminhar pelas ruas. Algumas vezes acabo não sentindo absolutamente nada, outras vezes sinto reflexos. Amor se torna ódio, raiva se torna um sorriso, decepção se torna pena, vida se torna morte, morte se torna vida. Isso tudo por nadar entre os oceanos de pessoas.
Há um lado bom nisso tudo apesar de tudo, chega um ponto onde você aprende a ler bem as pessoas e saber de suas palavras antes mesmo que as mesmas falem. É uma vacina interessante para qualquer situação, menos a do vazio que você sente sempre que volta para casa.



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