sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Agridoce




Talvez eu não seja um druida, ou um arqueiro, ou mago. Nenhuma dessas classes reflete algo que até então, tenho negado para mim mesmo. Talvez no final, eu seja mesmo um bardo. Um contador de histórias, um músico, um escritor. Não da maneira genérica e feliz, mas em um ponto mais profundo e além do que seria aceitável.
Foi um tipo de choque, me deixou com uma sensação eterna de ter pulado do topo de uma montanha, mas ainda não ter chegado ao solo. Uma sensação que ainda não sei bem como descrever, mas de um tom agridoce. Libertador e sufocante ao mesmo tempo.
Sei disso porque parando para pensar, posso dizer que já experimentei um pouco de cada aspecto da vida, mas boa parte de meus relatos também contaram com outras participações. Notei que gosto muito de ouvir histórias de outras pessoas, os sorrisos esboçados, as batidas felizes de seus corações naqueles momentos deliciosos, e até mesmo gosto de imaginar a dor que sentem em cada tragédia. Talvez isso tenha me ajudado bastante a controlar minhas emoções em cada dificuldade ou em cada decisão. Sim, de fato ajudaram bastante.
O problema nisso tudo é que acabei me dando conta que pouco a pouco, deixei de viver as minhas próprias histórias, minhas próprias aventuras, meus próprios amores, minhas próprias conquistas. Mergulhei de cabeça em vidas que nunca foram minhas, e imaginando fatos que nunca iriam acontecer.
E assim pouco a pouco passei a sentir cada vez menos. Fui me tornando uma laranja mecânica, programado para viver o dia a dia, mas entendendo cada vez menos sobre sentimentos e emoções. Afastando-me de um mundo ignorante e vivendo dentro de uma zona de conforto que apenas eu entendo, coletando histórias e vivendo através delas, mas esquecendo de que posso fazer minhas próprias histórias lá fora. Em algum ponto eu me perdi. Parei de sair, parei de tentar conhecer pessoas novas, parei de puxar assunto, parei de fingir. Diria que nesse exato momento, estou esvaziando palavras que até então, nem eu mesmo sabia que poderia descrever como minhas, afinal, uma regra primária para mim é nunca demonstrar fraqueza emocional. Bom, há uma primeira vez para tudo, diria que estou muito emotivo até.
Enquanto digito e ignoro os sons lá fora, penso no que deveria fazer a respeito de tudo isso que já disse. Isso me lembra “New Slang” minha música favorita da banda The Shins, quando perguntaram o significado da mesma, foi dito que ela foi escrita em um momento de “fugir do trabalho, de relacionamentos, de emoções e da vida”. Finalmente entendi o que ele quis dizer, talvez eu precise dar um tempo de tudo e reunir meu essencial, o que me faria bem nesse momento e nos dias que se seguem.
No momento penso apenas em terminar o post, aumentar o volume e fechar os olhos, um novo dia virá amanhã e talvez, respostas com ele. Mas voltando para minha palavra favorita, “talvez” não precise de um novo dia, e sim, sair de casa e olhar mais uma vez para o mundo lá fora com meus próprios olhos. Quem sabe não seja hora de deixar de apenas existir, e voltar a ser alguém que deve lembrar a todos que há um mundo diferente em cada um de nós.
Começando por mim.


“Eu nadei em um oceano de pessoas, conheci cada uma delas e suas histórias. Mas nenhuma delas me conheceu de verdade.”

segunda-feira, 4 de maio de 2015

Sou Quem Eu Sou





Sabe aqueles dias onde você começa a escutar música, olha para um ponto qualquer e do nada, bem do nada mesmo, um filminho sobre a sua vida passa em sua cabeça? Logo os pensamentos felizes se tornam reflexos de momentos que já não tem importância, questionamentos de dúvidas que você nem sabia que tinha, aparecem para assombrá-lo, e a vida não tem muito sentido. Ou se tem você via apenas pelo ângulo errado.
Há certa licença poética quando as pessoas vivem intensamente, experimentando coisas novas e testando seus limites, quando sentem que perderam seu tempo até então sendo exatamente como rodas em ladeiras. Alguns nunca chegam ao fim e colidem no meio do caminho, outros continuam a descer em alta velocidade, e no final todos fazem a mesma coisa, descendo por um caminho sem variáveis em suas vidas artificiais.
Talvez seja pensando por essa variável que passe tanto tempo imaginando uma vida que realmente nunca foi minha, ou talvez tenha sido em algum universo paralelo. A única certeza é que nos sonhos ela pode vir a acontecer, mas apenas ali, onde não tenho tanto controle como gostaria.
Enfim, o caso é que hoje está sendo um desses dias onde penso demais, o mal do geminiano acaba sendo esse. Vocês companheiros de signo devem saber disso. Nunca vamos estar satisfeitos com um mundo onde tudo se resume a opostos, sabe? Preto e branco, certo e errado, sim e não, tristeza e felicidade, Yin e Yang....Lembro do nome daquela saga ridícula de livros, “Cinquenta Tons de Cinza”, porque demonstra bem um fato óbvio que muitos acabam esquecendo. Há muitas e muitas variáveis para se analisar, eu nunca conseguiria ser o tipo de pessoa que se satisfaz com a primeira opção.
Você, meu caro leitor, deve ter percebido que estou divagando tanto aqui que o primeiro parágrafo dificilmente tem alguma relação com o anterior. Ou com o de agora, dificilmente terá com o próximo também, tudo porque nesse exato momento minha mente está vagando por vários universos. Em cada um tenho milhares de pensamentos. Outras vidas, outras pessoas, outros sentimentos, escolhas erradas que fiz, escolhas que terei de fazer, pessoas que terei de abandonar, pessoas que tenho interesse em conhecer, lágrimas que já chorei, outras que um dia terão de surgir....Inúmeros “eus” pensando ao mesmo tempo.
Acabei me acostumando com os olhares de reprovação, a cada vez que fui chamado de lunático, e a pessoas que me deram as costas pelo meu jeito. Foi até melhor assim, quem nunca soube pensar tão fora da bolha da normalidade, nunca teve realmente muito a ver comigo, nossas conversas eram sempre triviais e os encontros, sem sentido. Acho que para resumir a coisa toda, posso dizer apenas que penso demais e acabo encontrando detalhes sobre mim mesmo e do mundo que acabam me deixando um tanto melancólico, até mais que o normal.
Mas se eu penso demais, então quer dizer que eu acabo agindo de menos? De forma alguma! O único problema é que a dificuldade acaba sendo maior para fazer qualquer coisa, afinal, eu penso em todos os milhares de porquês de fazer ou não alguma coisa.


Obs: Passei os últimos dias ouvindo Charlie Brown Jr., acho que isso tem alguma influência. Nunca havia percebido o quanto o Chorão me entendia em suas letras. Que Odin o tenha.

domingo, 26 de abril de 2015

Eram Todos Humanos




Eles eram todos humanos quando resolveram sair naquela noite chuvosa, novamente para fazer o que sempre faziam quando estavam entediados. Mais uma noite em seu bar favorito, com o mesmo grupo de sempre.
Eles eram todos humanos ali. Aquele que sempre fugia da realidade com suas ervas mágicas, aquela perdida em amores imaginários, ele que sempre tentava evoluir um pouco mais em seus mantras, ela que sempre analisa tudo ao seu redor, e por fim ele, aquele que só consegue sorrir ao montar sua própria história dentro de sua mente.
E eles eram todos humanos quando começaram a beber aquela cerveja gelada e misturá-la com tudo o que tinham em mãos. Doces ou salgados, tudo parecia combinar com aquele momento, em meio a chuva, o bar lotado e a mesa que conseguiram em um canto apertado, quase oculto do resto do local.
E eles eram todos humanos quando começaram a enxergar as coisas por ângulos diferentes. Pouco a pouco, todos cessaram as risadas e frases sem sentido pelo silêncio absoluto. Cabeças baixaram, celulares foram desligados e olhares desfocaram. Alguns logo tiveram lágrimas escorrendo em seus rostos, cada um teve um motivo para estar assim, mas juntos tiveram a tristeza compartilhada.
E eles eram todos humanos ao levantarem e irem até o carro. Apenas um trio foi até lá, mas os três compartilharam tudo o que os afligia naquele momento, e logo observaram um pouco do cenário fora daquele veículo. Ele desabafou ao falar sobre um amor não correspondido, que estava em uma mesa próxima e nem ao menos se lembrava de sua face, ela falou sobre a energia negativa que andava assolando seus últimos dias, e ainda houve ela, que refletia sobre tudo o que deu errado em sua vida durante a semana.
E eles eram todos humanos quando o príncipe celta, que ainda olhava desconfortável para o amor que nunca teria, fez uma analogia sobre aquela situação ao compartilhar o que pensava sobre aquela noite chuvosa. Pareciam ser apenas humanos sem esperança com sonhos perdidos, refugiados da chuva em meio a caixas, mesas e outras pessoas, igualmente perdidas. O cenário parecia ser um beco iluminado por luzes de prédios tão altos que o céu noturno mal era notado, exceto pelas gotas incontáveis de chuva que lavava seus rostos tristes e lacrimejantes.
E no final, eles eram todos humanos ao voltar para casa. Possivelmente seriam todos humanos ao acordar no dia seguinte, lutando pelas suas vidas, mascarando suas frustrações em silêncio e com falsos sorrisos em seus rostos.
E acho que ainda assim, todos nós somos humanos.

quarta-feira, 22 de abril de 2015

Retrospectiva





Todos os dias ao acordar, abro os olhos lentamente e percorro o local onde estou com apenas uma dúvida na cabeça. A primeira de muitas, é claro.
Sempre tenho a impressão de que não acordei de verdade, e que ainda estou sonhando. A linha entre o sonho e a realidade se perdeu há algum tempo para mim, muitas vezes permaneço deitado com o olhar fixo no teto repassando os eventos mais recentes de minha vida. O interessante é que alguns de meus pensamentos acabam caindo na nostalgia. Sabe aquela época onde tudo era mais fácil, ou que você se pergunta se poderia ter feito algo de diferente? Eu também sei.
Houve a época da inocência onde nenhuma preocupação existia. Eu era feliz demais fazendo muito pouco, era muito mais geek que hoje em dia. Todo o fim de semana convidava meus primos para dormir em casa, era um ritual semanal que tínhamos. Pedíamos pizzas, jogávamos vários multiplayers no velho Nintendo 64 (melhor época de todas, Perfect Dark que o diga), piscina a qualquer hora e eventuais passeios pelas redondezas. Minhas únicas preocupações nos meus 13-15 anos eram que jogo terminar ou que amigos convidar.
Mas aí veio o choque de realidade, ou que penso ser realidade.
Em algum momento houve uma transição, que quem me conhece e leu meus textos conhece bem. Foi quando me dei conta do quão artificial tudo se tornou, e quando não tinha mais para onde correr, além de crescer.
O conflito em minha personalidade me faz analisar tudo ao meu redor por inúmeros ângulos, logo minhas preocupações de expandiram além do que posso suportar. Hoje há o trabalho, o modo como devo gastar meu dinheiro, o eterno estudo na faculdade, os esforços para manter os ciclos sociais, a vida começando, de fato. É onde eu acabo por me perder, e bastante.
Junto às novas responsabilidades, eu também comecei a ter essa visão diferenciada do mundo e da realidade, o que me faz questionar diariamente se estou mesmo vivendo. Olho para tudo o que acontece e vejo pessoas que não sorriem tanto como antes, que não apreciam estrelas no céu, que descartam outras por falta de afinidades... Enfim, não vou divagar tanto, senão teria de incluir também o que penso a respeito do mundo atual, o que por si só é um tópico longo.
O caso é que eu nem comecei a descarregar minhas frustrações e pensamentos, não é preciso ser um rei da semiótica para notar que até o momento fui um muro das lamentações. Talvez porque ainda esteja achando que é um sonho ruim do qual não acordei, ou porque estou cansado demais para ser o Alexis que racionaliza tudo, e sonha com o que acha correto.
Enfim, eu não sei de nada hoje, no final das contas, acho que ninguém sabe. Só tentam justificar ações e pensamentos para algo que os deixe mais aliviados consigo mesmos.
Sim, era muito mais fácil decidir entre pizza de calabresa ou quatro queijos.