
Eles eram todos humanos quando resolveram sair naquela noite chuvosa, novamente para fazer o que sempre faziam quando estavam entediados. Mais uma noite em seu bar favorito, com o mesmo grupo de sempre.
Eles eram todos humanos ali. Aquele que sempre fugia da realidade com suas ervas mágicas, aquela perdida em amores imaginários, ele que sempre tentava evoluir um pouco mais em seus mantras, ela que sempre analisa tudo ao seu redor, e por fim ele, aquele que só consegue sorrir ao montar sua própria história dentro de sua mente.
E eles eram todos humanos quando começaram a beber aquela cerveja gelada e misturá-la com tudo o que tinham em mãos. Doces ou salgados, tudo parecia combinar com aquele momento, em meio a chuva, o bar lotado e a mesa que conseguiram em um canto apertado, quase oculto do resto do local.
E eles eram todos humanos quando começaram a enxergar as coisas por ângulos diferentes. Pouco a pouco, todos cessaram as risadas e frases sem sentido pelo silêncio absoluto. Cabeças baixaram, celulares foram desligados e olhares desfocaram. Alguns logo tiveram lágrimas escorrendo em seus rostos, cada um teve um motivo para estar assim, mas juntos tiveram a tristeza compartilhada.
E eles eram todos humanos ao levantarem e irem até o carro. Apenas um trio foi até lá, mas os três compartilharam tudo o que os afligia naquele momento, e logo observaram um pouco do cenário fora daquele veículo. Ele desabafou ao falar sobre um amor não correspondido, que estava em uma mesa próxima e nem ao menos se lembrava de sua face, ela falou sobre a energia negativa que andava assolando seus últimos dias, e ainda houve ela, que refletia sobre tudo o que deu errado em sua vida durante a semana.
E eles eram todos humanos quando o príncipe celta, que ainda olhava desconfortável para o amor que nunca teria, fez uma analogia sobre aquela situação ao compartilhar o que pensava sobre aquela noite chuvosa. Pareciam ser apenas humanos sem esperança com sonhos perdidos, refugiados da chuva em meio a caixas, mesas e outras pessoas, igualmente perdidas. O cenário parecia ser um beco iluminado por luzes de prédios tão altos que o céu noturno mal era notado, exceto pelas gotas incontáveis de chuva que lavava seus rostos tristes e lacrimejantes.
E no final, eles eram todos humanos ao voltar para casa. Possivelmente seriam todos humanos ao acordar no dia seguinte, lutando pelas suas vidas, mascarando suas frustrações em silêncio e com falsos sorrisos em seus rostos.
E acho que ainda assim, todos nós somos humanos.