domingo, 26 de abril de 2015

Eram Todos Humanos




Eles eram todos humanos quando resolveram sair naquela noite chuvosa, novamente para fazer o que sempre faziam quando estavam entediados. Mais uma noite em seu bar favorito, com o mesmo grupo de sempre.
Eles eram todos humanos ali. Aquele que sempre fugia da realidade com suas ervas mágicas, aquela perdida em amores imaginários, ele que sempre tentava evoluir um pouco mais em seus mantras, ela que sempre analisa tudo ao seu redor, e por fim ele, aquele que só consegue sorrir ao montar sua própria história dentro de sua mente.
E eles eram todos humanos quando começaram a beber aquela cerveja gelada e misturá-la com tudo o que tinham em mãos. Doces ou salgados, tudo parecia combinar com aquele momento, em meio a chuva, o bar lotado e a mesa que conseguiram em um canto apertado, quase oculto do resto do local.
E eles eram todos humanos quando começaram a enxergar as coisas por ângulos diferentes. Pouco a pouco, todos cessaram as risadas e frases sem sentido pelo silêncio absoluto. Cabeças baixaram, celulares foram desligados e olhares desfocaram. Alguns logo tiveram lágrimas escorrendo em seus rostos, cada um teve um motivo para estar assim, mas juntos tiveram a tristeza compartilhada.
E eles eram todos humanos ao levantarem e irem até o carro. Apenas um trio foi até lá, mas os três compartilharam tudo o que os afligia naquele momento, e logo observaram um pouco do cenário fora daquele veículo. Ele desabafou ao falar sobre um amor não correspondido, que estava em uma mesa próxima e nem ao menos se lembrava de sua face, ela falou sobre a energia negativa que andava assolando seus últimos dias, e ainda houve ela, que refletia sobre tudo o que deu errado em sua vida durante a semana.
E eles eram todos humanos quando o príncipe celta, que ainda olhava desconfortável para o amor que nunca teria, fez uma analogia sobre aquela situação ao compartilhar o que pensava sobre aquela noite chuvosa. Pareciam ser apenas humanos sem esperança com sonhos perdidos, refugiados da chuva em meio a caixas, mesas e outras pessoas, igualmente perdidas. O cenário parecia ser um beco iluminado por luzes de prédios tão altos que o céu noturno mal era notado, exceto pelas gotas incontáveis de chuva que lavava seus rostos tristes e lacrimejantes.
E no final, eles eram todos humanos ao voltar para casa. Possivelmente seriam todos humanos ao acordar no dia seguinte, lutando pelas suas vidas, mascarando suas frustrações em silêncio e com falsos sorrisos em seus rostos.
E acho que ainda assim, todos nós somos humanos.

quarta-feira, 22 de abril de 2015

Retrospectiva





Todos os dias ao acordar, abro os olhos lentamente e percorro o local onde estou com apenas uma dúvida na cabeça. A primeira de muitas, é claro.
Sempre tenho a impressão de que não acordei de verdade, e que ainda estou sonhando. A linha entre o sonho e a realidade se perdeu há algum tempo para mim, muitas vezes permaneço deitado com o olhar fixo no teto repassando os eventos mais recentes de minha vida. O interessante é que alguns de meus pensamentos acabam caindo na nostalgia. Sabe aquela época onde tudo era mais fácil, ou que você se pergunta se poderia ter feito algo de diferente? Eu também sei.
Houve a época da inocência onde nenhuma preocupação existia. Eu era feliz demais fazendo muito pouco, era muito mais geek que hoje em dia. Todo o fim de semana convidava meus primos para dormir em casa, era um ritual semanal que tínhamos. Pedíamos pizzas, jogávamos vários multiplayers no velho Nintendo 64 (melhor época de todas, Perfect Dark que o diga), piscina a qualquer hora e eventuais passeios pelas redondezas. Minhas únicas preocupações nos meus 13-15 anos eram que jogo terminar ou que amigos convidar.
Mas aí veio o choque de realidade, ou que penso ser realidade.
Em algum momento houve uma transição, que quem me conhece e leu meus textos conhece bem. Foi quando me dei conta do quão artificial tudo se tornou, e quando não tinha mais para onde correr, além de crescer.
O conflito em minha personalidade me faz analisar tudo ao meu redor por inúmeros ângulos, logo minhas preocupações de expandiram além do que posso suportar. Hoje há o trabalho, o modo como devo gastar meu dinheiro, o eterno estudo na faculdade, os esforços para manter os ciclos sociais, a vida começando, de fato. É onde eu acabo por me perder, e bastante.
Junto às novas responsabilidades, eu também comecei a ter essa visão diferenciada do mundo e da realidade, o que me faz questionar diariamente se estou mesmo vivendo. Olho para tudo o que acontece e vejo pessoas que não sorriem tanto como antes, que não apreciam estrelas no céu, que descartam outras por falta de afinidades... Enfim, não vou divagar tanto, senão teria de incluir também o que penso a respeito do mundo atual, o que por si só é um tópico longo.
O caso é que eu nem comecei a descarregar minhas frustrações e pensamentos, não é preciso ser um rei da semiótica para notar que até o momento fui um muro das lamentações. Talvez porque ainda esteja achando que é um sonho ruim do qual não acordei, ou porque estou cansado demais para ser o Alexis que racionaliza tudo, e sonha com o que acha correto.
Enfim, eu não sei de nada hoje, no final das contas, acho que ninguém sabe. Só tentam justificar ações e pensamentos para algo que os deixe mais aliviados consigo mesmos.
Sim, era muito mais fácil decidir entre pizza de calabresa ou quatro queijos.